A Formação da Cruz de Luz

A Formação da Cruz de Luz

Informações

  • 03/03/2007
    -
  • Tipo de Evento: Privado

Detalhes

A TRÍPLICE BEMA: UMA FESTA MANIQUEIA E NEOCÁTARA QUE RETORNA PARA AQUÁRIO

O público em geral não está acostumado com o tipo de organização espiritual chamado Escola Gnóstica de Mistérios. De tal modo que, ao ouvir falar de algo semelhante, frequentemente se confunde ou apresenta muitas dúvidas. É comum que os esoteristas, mais acostumados com as grandes Ordens monistas manifestadas a partir do século XVIII, principalmente no século XX, façam paralelos entre essas organizações e uma típica Escola de Mistérios. As Ordens monistas têm fundamento em velhas tradições — como os Vedas hindus, a Yoga (e a filosofia Samkhya), o Sufismo sunita, o Budismo Mahayana, o Neoplatonismo — e até mesmo na Cabalá judaica não-luriana (correntes cabalistas diferentes da ensinada pelo grande mestre Isaac de Lúria).

A NATUREZA DAS ESCOLAS DE MISTÉRIOS

Uma Escola de Mistérios, em sua natureza esotérica típica, pode ser observada nas duas obras herméticas do alquimista parisiense Fulcanelli: O Mistério das Catedrais e As Mansões Filosofais. No livro O Mistério das Catedrais, Fulcanelli fala das construções herméticas de Paris; em seu discurso, ele revela os “Brancos de Florença”, Escola de Mistérios que pertencia à seita gnóstica dos “cátaros”, grandes iniciados. Já em As Mansões Filosofais, ao comentar esculturas dos Templários, ele diz textualmente: “Os irmãos do Templo – não é mais possível haver dúvida a esse respeito – foram seguramente afiliados ao Maniqueísmo. De resto, a tese de Barão Hammer está conforme essa opinião. Para ele, todos os de Mardeck, os maçons, os albigenses (cátaros), os templários, os franco-maçons, além da Sabedoria (Dar-el Hickmet), tudo não seria senão obra do século XI, por Hakem”.

Mais adiante, para entrar no pormenor da natureza das Escolas de Mistérios, Fulcanelli associa o simbolismo do Baphomet à entidade com a particular “met” que equivale a “meteus”, mais precisamente ao “batismo de meteus”, rito dos gnósticos ofitas, praticantes de dois batismos: um de água e outro de fogo. Portanto, o diferencial de uma Escola de Mistérios, em especial a dos cátaros, a dos cavaleiros templários e a dos gnósticos ofitas, é sua natureza de ritos e festas derivada do ensino gnóstico secreto do duplo batismo.

Fulcanelli diz ainda que os templários e os cátaros eram maniqueístas, seguidores de Mani, ou Manes, um gnóstico persa do século III d.C. Estudos recentes indicam que o Catarismo surgiu dentre duas vertentes de Bogomilismo: uma dualista moderada, de tendência gnóstica valentiniana, e outra dualista radical, de tendência maniqueísta.

O MANIQUEÍSMO E A FESTA GNÓSTICA DA BEMA

O Maniqueísmo comemorava a magnífica Festa de Mistérios da Crucificação de Mani, chamada Bema. Mani, o fundador do Maniqueísmo, foi torturado durante vinte e seis dias, em 276 d.C., degolado e crucificado.

No sentido mais profundo, a Bema é a festa da transformação de Mani Apóstolo da Luz em Mani-Paracleto. Segundo a Gnosis valentiniana, o sacrifício de Jesus na Cruz fez do seu sangue o vaso do Paracleto, ou do Santo Graal. Quem ler cuidadosamente o Evangelho Gnóstico da Pistis Sophia notará que nos “Doze Arrependimentos” fala-se de um poder especial que Jesus doou a seus discípulos chamado Poder-Luz. Em inglês, é denominado Water’s-Power-Light (Poder Luminoso das Águas Batismais), surgido a cada atuação das três pombas do Paracleto no seio das águas, transformando-as em águas batismais. As águas luminosas, depois de incendiadas pelo Paracleto, levavam o Poder-Luz para determinados vegetais – o trigo, a oliveira, o nardo, o melão e a melancia.

O Poder estava também no sangue de Jesus, que, derramado na Cruz, tornou-se uma grande fonte vinhática de Poder-Luz do Paracleto, formando, então, o Graal. Desde o início e, sucessivamente, os primeiros cristãos e os primeiros gnósticos, até os maniqueus, a Refeição Sagrada (Eucaristia) era, ao lado do Batismo, o grande segundo Rito de Mistérios por meio do qual alguém poderia extrair dos vegetais ali oferecidos o Poder-Luz e, com ele, tornar-se um verdadeiro gnóstico, ou seja, um iluminado e liberto. No Maniqueísmo, a Bema é uma grande Refeição Sagrada, em que melões, melancias e outros frutos são ofertados aos gnósticos de modo a participarem de uma grande fonte de Poder-Luz libertador e iluminador.

Na Bema, o iniciado é dinamizado pelas mesmas capacidades manifestadas em Mani: o Paracleto e o Apostolado de Luz. Essa é a razão de os jessenios, gnósticos aquarianos, retomarem, na presente Era, à Festa da Bema e aos Ritos Gnósticos de Mistérios citados no Evangelho da Pistis Sophia e no de Felipe: o Batismo, a Eucaristia, a Unção, a Unção de Redenção ou Psicopômpica, e a Unção de Câmara Nupcial.

O óleo da Tríplice Crisma também contém o Paracleto, para a finalidade de unir a Ekklesia Humana com a Ekklesia Plerômica, possibilitando à primeira atravessar o mar cósmico da Gueneah¹, que os tibetanos chamam de “Corredor Estreito do Bardo”, e alcançar o Reino da Luz.

CARACTERÍSTICAS MODERNAS DA FESTA DA BEMA

A Festa da Bema Jessênia dura um ano e retorna a cada período de quatro anos. Foi realizada de 2003 a 2004, de 2007 a 2008, e a última de 2025. Para trazer à Era de Aquário esta sublime festa gnóstico-maniqueia, utilizamos, como fonte akáshica gnóstica, a região de Montségur, ao sul da França, onde em 15 de março de 1244 morreram queimados duzentos e cinco cátaros. Foi necessário visitarmos esse lugar sagrado por três vezes (2003, 2007 e 2011), razão por que falamos em Tríplice Bema.

O primeiro Rito da Bema, em 15 de março de 2003.

¹ Gueenah: Termo utilizado em algumas tradições espirituais e metafísicas, referindo-se a um conceito de travessia do reino da morte para o Reino da Luz.