O HINO DA PÉROLA
Quando eu era CRIANÇA, demasiado novo para falar e vivia no Reino do meu Pai, na Casa Paterna repleta de felicidade, desfrutando no Reino Divino as riquezas da minha família, recebendo dos meus IRMÃOS o sustento, meus pais me deram provisões e me enviaram para fora do nosso lar, situado no Leste. De sua Casa do Tesouro eles prepararam um pacote para mim. Era grande embora leve para que eu pudesse carregá-lo sozinho, e ele continha ouro da Casa dos Altíssimos e prata de Gazzak o Grande, e rubis da Índia e opalas da terra de Kushan, e eles me cingiram com um cinto especial onde engastaram a Pedra Adamas, isto é, o diamante que pode triturar o ferro.
Então eles me tiraram a brilhante túnica de glória, que eles haviam feito de AMOR para mim, e tiraram a minha toga púrpura, que foi tecida sob medida perfeitamente ajustada à minha estatura. Eles fizeram uma ALIANÇA comigo e escreveram-na em meu coração para que eu não esquecesse. A escrita dizia o seguinte: “Quando desceres para o Egito, e trouxeres de volta a PÉROLA ÚNICA, que está depositada no meio do mar e é guardada por uma serpente desdenhosa, novamente vestirás a tua túnica de glória e a tua toga por cima, e com teu irmão, o próximo em nossa linhagem, tu serás herdeiro em nosso Reino”.
Deixei o Leste acompanhado por dois enviados reais, que tinham Ordem de me atender, porque eu era jovem e precisava de ajuda ao longo dessa jornada tão perigosa.
Atravessei as FRONTEIRAS de Miashan, o local de reunião dos mercadores do Leste, e cheguei à terra de Babel e penetrei nos muros de Sarbug. Desci para o Egito e meus companheiros me deixaram. Como eu estava completamente sozinho, era um ESTRANHO para os outros da hospedaria. No entanto, vi um dos meus ali, um nobre do Leste, jovem, belo, amável, um filho de reis – um UNGIDO, e ele veio e ficou íntimo de mim. E eu o fiz meu confidente com quem compartilhei a minha missão. Ele me preveniu contra os egípcios e do contato com os impuros, pois eu havia colocado uma túnica igual à deles, para que não suspeitassem que eu era um estrangeiro que viera apossar-se da PÉROLA e, assim, instigassem a serpente contra mim. Mas de alguma maneira descobriram que eu não era seu compatriota, e eles lidaram comigo com astúcia e me deram do seu alimento para COMER. Eu esqueci que era FILHO de um Rei e servi ao rei deles. Eu esqueci da PÉROLA, em BUSCA da qual meus pais me enviaram. Por causa do peso do alimento deles caí em um SONO profundo. Mas quando todas essas coisas me aconteceram, meus pais souberam e se entristeceram por mim.
Proclamou-se que todos viessem aos portões de nosso Reino. E os reis e os príncipes de Parthia e todos os nobres do Leste teceram um plano para mim para que eu não fosse deixado no Egito. E eles me ESCREVERAM UMA CARTA e cada nobre assinou-a com seu NOME: “De teu Pai, o Rei dos Reis, e tua Mãe, a Senhora do Leste, e de teu IRMÃO, o próximo em poder, para ti, nosso filho no Egito, saudações! Desperta e te levanta do teu sono e ouve as palavras de nossa carta! Lembra que tu és um filho dos Reis e vê a ESCRAVIDÃO de tua vida. Lembra da PÉROLA pela qual foste ao Egito! Lembra da tua túnica de glória e teu manto esplêndido que poderás usar quando teu NOME for escrito no Livro da Vida, for lido no livro dos heróis, quando tu e teu irmão herdarem nosso Reino”.
E servindo como MENSAGEIRO a carta era uma CARTA SELADA PELO REI COM SUA MÃO DIREITA contra os maus, os filhos de Babel e os demônios selvagens de Sarbug. Ela se ergueu na forma de uma águia, a rainha de todas as aves; ela voou e desceu a meu lado, e se tornou LINGUAGEM DE MISTÉRIOS. Com sua voz e o som do farfalhar de suas asas, eu despertei e sai do meu sono. Eu a peguei, A BEIJEI, quebrei seu selo e a li. E as palavras escritas no meu coração estavam na carta para que eu as lesse. Lembrei que eu era um filho de Reis e minha alma livre ansiou pelos de minha espécie. Lembrei da PÉROLA pela qual fui enviado para o Egito, e comecei a encantar a terrível serpente tonitruante. Eu a subjuguei, para que adormecesse, pronunciando o nome de meu Pai, o nome do nosso segundo em Poder e o de minha Mãe, a rainha do Leste [Oriente].
Apanhei a pérola e dirigi-me de volta à Casa de meu Pai. Retirei as vestimentas imundas e impuras, deixando-as em seu país de origem, e dirigi-me para o caminho por onde havia vindo, o qual leva à Luz de minha terra, o Leste [o Oriente]. No caminho, encontre diante de mim a carta que me despertara. E assim como ela havia me despertado com sua Voz, também com sua Luz me guiava e brilhava diante de mim em sua própria forma. Ela encorajou-me a me apressar. Com sua Voz vencia meu medo e com seu Amor fez-me avançar. Eu segui adiante... Vislumbrava, às vezes, as Vestes reais de seda, resplandecendo diante de mim. Segui adiante. Passei por Sarbug [o Labirinto], deixei a Terra de Babel à esquerda, e cheguei a Maishan, o refúgio dos mercadores, que à beira-mar se situava.
Meus pais enviaram-me a Veste de Glória, da qual eu havia me despido, e o Manto em que ela estava envolvida. Enviaram-nos das alturas de Hyrcânia, pelas mãos de seus Distribuidores de Tesouros, a quem, por causa de sua lealdade e Fé, foram confiados minha Veste e meu Manto, dos quais eu não lembrava de sua forma e do esplendor, pois os havia deixado na Casa de meu Pai na minha infância. Ao ver a minha Veste, ela pareceu-me como a imagem de mim mesmo e me vi integralmente nela.
Percebi nela todo o meu ser e, por meio dela, reconheci a mim mesmo. Conquanto dois em distinção, parcialmente divididos, éramos unos em semelhança, tínhamos a mesma origem. Também os Tesoureiros que do Alto haviam trazido a minha Veste, vi que eram dois seres, mas ambos tinham uma única forma, e uma única insígnia real constituída em duas metades. Pelas suas mãos os meus tesouros foram restituídos, bem como a minha gloriosa Veste reluzente, de brilhante esplendor, bordada com ouro, pérolas e pedras preciosas de diferentes cores, com ouro e berilos, rubis e ágatas de variadas matizes. Para realçar sua grandeza, era cingida com diamantes; e tinha pedras de safiras afixadas na gola com lindo efeito. E a imagem do Rei dos Reis estava inteiramente estampada nela. Vi que em toda a sua extensão estavam ativos os princípios do Conhecimento [Gnosis], e ela [a Veste] estava se preparando como que para falar. Ouvi o som de sua música, e ela sussurrava ao descer: 'Sou eu que pertence àquele para quem fui indicada pelo próprio Pai. Eu percebi em mim mesma que crescia em estatura de acordo com sua atividade [daquele a quem pertence a Veste]'.
Com seus majestosos movimentos, ela vinha em minha direção, como que apressada nas mãos de seus doadores, incentivando-me a recebê-la. E de minha parte, meu amor instava-me a correr ao seu encontro. Estendi-me para recebê-la; com a beleza de suas cores adornei-me, e envolvi-me em meu Manto de cores resplandecentes. Vestido dessa forma, ascendi ao Portal das Boas-Vindas e da Reverência. Minha cabeça curvei e prostei-me à Glória de meu Pai, que enviou a minha Veste, pois eu cumprira as suas ordens, e ele, de sua parte, realizou o que havia prometido. Ele recebeu-me com alegria, e fiquei com ele em seu Reino, e com seus Príncipes e Nobres que o louvavam e cantavam Hinos com vozes ressoantes. Ele também me prometeu ser levado à corte do Rei dos Reis em sua companhia, para que com a Pérola eu pudesse comparecer diante Dele.
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Texto coletado de diversas traduções.
Os comentários aqui apresentados dão-se exatamente dentro do espírito doutrinário em que o Hino foi produzido, lido e praticado entre os séculos II e III d.C., nos grupos gnósticos dualistas da Escola de Mistérios do Apóstolo Tomé. Nossa intenção é mostrar ao pesquisador da Verdade, de modo claro e inquestionável, a diferença entre uma Escola Gnóstico-Dualista e uma ordem esotérica monista, evolucionista.
O HINO DA PÉROLA (ou O HINO DA VESTE DE LUZ)
SOB A ÓTICA DO JESSENISMO
O Hino da Pérola é um luminoso documento que surgiu nos primeiros anos da Era Cristã e transitou entre os gnósticos das correntes de Bardesan e dos Maniqueus. Esse testemunho do Gnosticismo Dualista discorre acerca da saga da alma humana, após o erro da queda, que a desligou do Paraíso fazendo-a mergulhar nas trevas da malignidade e do sofrimento e a vagar pelo mundo material dominado pelas forças luciféricas. Também na Bíblia encontramos semelhante narrativa, como na Parábolas do Filho Pródigo (Lucas 15: 11 a 32) e na Parábola da Pérola de Grande Valor (Mateus 14: 44 a 46).
No texto de Mateus, Jesus fala de um negociante que vê enterrada num campo uma preciosa pérola. Com grande habilidade, ele compra o campo para ter acesso à joia sagrada. No mesmo texto há a ideia de um mar onde se deve pescar separando os peixes bons dos ruins. Em seguida, compara-se essa tarefa com a dos Anjos de separar, no final dos tempos, os homens justos dos injustos.
No texto do Apocalipse de João, descreve-se o Reino de Deus como uma cidade ceLeste, uma localidade oriental – Parthia, do Hino da Pérola – cujas portas são enfeitadas por pérolas.
No Hino, destacamos algumas palavras em maiúscula: CRIANÇA, IRMÃOS, ALIANÇA, PÉROLA ÚNICA, FRONTEIRA, ESTRANHO, UNGIDO, COMER, FILHO, BUSCA, SONO, CARTA, ESCRAVIDÃO, NOME, MENSAGEIRO, LINGUAGEM DE MISTÉRIOS, ARFAR DE ASAS e BEIJO. O perfil da Escola de Mistérios Jessênia é intensamente marcado por cada uma dessas palavras.
Na Comunidade Jessênia, muito falamos em VELHA ALIANÇA e em NOVA ALIANÇA. A palavra ALIANÇA é por nós compreendida como Escrituras Sagradas Vivas cujas palavras têm um poder mnemônico de acordar algo adormecido no lado DIREITO do nosso coração. A Velha Aliança, ou Velho Testamento, revelada por Moisés e pelos profetas, utilizava uma marca para fazer esse poder mnemônico surgir: a circuncisão do órgão sexual masculino. Ela era, portanto, uma Aliança Sexual que tinha ecos nos povos de Israel e no povo hindu, para o qual aparecia como Tantra Ioga com a finalidade era tornar a serpente kundalínica desperta, em vez de encantá-la e dominá-la, como recomenda o Hino da Pérola.
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No Hino da Pérola, os termos despertar e encantar devem ser entendidos da forma correta, pois ele foi escrito já sob a vigência da NOVA ALIANÇA – a ALIANÇA DE JESUS, O UNGIDO – na qual a serpente da kundalini não é o centro das atenções e das práticas iniciáticas, e sim o PEITO, onde o DIAMANTE esmagará o ferro sanguíneo e dará início ao processo denominado CRIANÇA. Ora, sabemos que as crianças crescem e se desenvolvem por razão da glândula timo, localizada no peito, perto do coração e do osso esterno¹ .
Esmagar o ferro sanguíneo significa matar os sete fundamentais erros que carregamos na corrente sanguínea: o ferro da ira; o chumbo da ignorância; o estanho da vaidade; o cobre da devassidão e da gula; o mercúrio da ilusão e da premeditação do mal; a prata do orgulho e da teimosia; e o ouro da ostentação e da necessidade de mergulhar nos fios embaraçosos da matéria para dali tirar o sustento financeiro.
¹ Nos graus avançados da Comunidade Jessênia, p/ex o Grau do Frater Alquimista, mostramos de forma mais profunda como diversas figuras e ilustrações dos alquimistas da Idade Média e os mais recentes, um deles Fulcanelli, nos indicam a função transmutadora dessa importante glândula situada no peito. Há diversas passagens bíblicas relacionadas às crianças. Na Comunidade Jessênia, essas passagens (dentre elas Isaías 3: 4; Joel 2: 6; 2 Reis 2: 23) são investigadas segundo a Alquimia. Em Reis 2:23, a glândula timo é relacionada com os cabelos da cabeça, com a calvície e com o dom da profecia.
Dois pontos podemos destacar nesses sete princípios malignos sanguíneos: – o ferro está ligado à ira como um sentimento muito forte e à disciplina ou conduta rigorosa do caminhar pela matéria; – o cobre está relacionado à gula, ao nosso comportamento alimentar e modo típico de COMER, uma das palavras que destacamos em maiúsculo no texto do Hino da Pérola.
No início do Velho Testamento, no livro de Gênesis, capítulo 3, Adão e Eva são induzidos a COMEREM um fruto venenoso e, em consequência, perdem a sua cidadania edênica, foram expulsos do Jardim do Éden. No final do Novo Testamento, no livro do Apocalipse de João, capítulo 22, fala-se a respeito da Árvore da Vida, que nos dá um remédio que temos de COMER para retornar ao Reino de Deus.
Evidente que essa NUTRIÇÃO de que falam as Escrituras Sagradas e o Hino da Pérola deve ser entendida no sentido esotérico e alquímico. Lembremos que a principal ritualística de Jesus é a REFEIÇÃO SAGRADA, também chamada de Eucaristia ou MISTÉRIO PRANDIAL.
Todo alimento contém éter químico, cuja função é ajustar a digestão retirando dela a boa nutrição que nos dará saúde. Além disso, o éter químico tem por propriedade reunir, de forma organizada, as pessoas em torno de suas mesas de alimentação. E esse segundo poder do éter químico pode ser alquimicamente transmutado para conduzir o gnóstico ao seu LAR FAMILIAR, à sua Casa Paterna, onde Homens e Anjos convivem numa irmandade divina, numa sociedade igual àquela de que participavam Adão e Eva antes de serem expulsos do Jardim do Éden.
O Evangelho de Filipe, documento gnóstico valentiniano de Nag Hammadi, a biblioteca gnóstica do sul do Egito descoberta em 1945, diz em uma parte do seu texto: "Deus fez tudo em Mistério: um Batismo, uma Eucaristia, uma Unção, uma Redenção e uma Câmara de Bodas Alquímicas". Diferentemente de outras vias iniciáticas, como a Ioga e a Teurgia, a Via Gnóstica tem um profundo relacionamento com a Eucaristia, ou Mistério Prandial.
A Santa Eucaristia era um ritual essênio praticado nos Monastérios de Qumran e do Lago Mareotis, no Egito. Segundo a descrição de alguns fiéis historiadores do Essenismo, um deles o judeu egípcio Fílon Alexandrino, durante as Refeições Sagradas os essênios realizavam uma longa seção de cantos e súplicas. Para isso, eles erguiam o BRAÇO DIREITO e, assim, imitavam o gesto do Rei, citado no Hino da Pérola, ao assinar a CARTA que deveria despertar o peregrino perdido no VALE DO EGITO.
Há um paralelo desse gesto do Rei de assinar a Carta com o Manifesto Rosacruz chamado Bodas Alquímicas de Cristão Rosacruz, quando o Anjo toca nas costas de CRC e entrega o convite para as Bodas.
Quem já leu outros documentos da Comunidade Jessênia e aprofundou sua pesquisa a respeito da nossa iniciação, pode lembrar-se de que o termo jessênios foi aplicado às comunidades cristãs palestinas do século 1 d. C. Elas receberam esse nome porque se constituíam de essênios discípulos de Jesus, daí a origem da palavra j-essênios: os essênios do grupo de Jesus. Isso significa que à semelhança daqueles gnósticos do Mar Morto, nós, jessênios, também somos profundamente enraizados na prática do MISTÉRIO BATISMAL e do MISTÉRIO PRANDIAL. Do mesmo modo eram os gnósticos que tinham como escritura orientadora o Evangelho de Filipe.
O ato de SELAR A CARTA COM A MÃO DIREITA, de que fala o Hino da Pérola, tem uma profunda implicação com os segredos da Alquimia Gnóstica. Na figura 1, observemos que no DEDO ANELAR da mão direita ali representada surge o meridiano denominado San Jiao, ou Triplo Aquecedor, conforme o denomina a Medicina Tradicional Chinesa e a Alquimia Taoista. Esse meridiano comanda o éter químico no âmbito do peito, fazendo o seu poder atuar no coração e no estômago. Dois dos seus pontos principais, o TA5 (Wai Guan) e o TA6 (Zhigou), são relacionados com o aquecimento digestivo e à MODULAÇÃO DA VOZ, funções que alquimicamente transformadas dão origem ao poder gnóstico que permite o CÂNTICO SAGRADO e a Nutrição Espiritual, a Santa Eucaristia.
No livro Poimandres, da coleção chamada Corpus Hermeticum, logo no início seu autor menciona um encantamento dos seus sentidos e o relaciona com uma refeição leve ao explicar que a visão que nele se abriu e lhe permitiu ver coisas sublimes não era provocada por uma REFEIÇÃO PESADA.
Existe, portanto, uma Instrução Iniciática Gnóstica que, diferente da Ioga e da Teurgia, conduz o iniciado a fechar as portas dos sentidos, a selar as portas da lípika, do último anel da esfera microcósmica, da totalidade do homem, colocando-o numa caminhada para dentro, em direção à PÉROLA esquecida e enterrada no lado direito do seu coração.
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Figura 2. A Aliança do Coração ou Aliança do Novo Testamento. Representação da mão direita com o TA3 e o TA5, os quais pela transfiguração do éter químico abrem um ponto do braço para a Santa Unção de Redenção. Esse processo surge no sangue pelo poder da oração indicado no jogo cabalístico c-oração. Esse é o princípio ardente do lado direito do coração que move na aura etérica as luzes e cores da nova Vida Perfeita. A carta alada fala da pérola, isto é, do lado direito do coração. Essa fala é um poder salmódico e de canto sacro. Tudo isso em operação chamamos de Gnosis. No pé que se direciona para a Luz temos três pontos de poder: o E45, referente ao estômago preparado para a Eucaristia; o F3, relativo ao fígado, que é um ponto de poder relacionado ao sono sagrado do gnóstico; e o R1, dos rins, que se enraíza no laboratório do Paracleto, no centro da Terra. |
Levantar a mão direita pode parecer um gesto simples, mas ao longo de seus estudos acerca da doutrina jessênia o pesquisador verificará que esse ritual de celebração da Eucaristia Gnóstica realizado na Comunidade Jessênia tem implicações com diversos centros de poder do corpo etérico, os quais – ativados alquimicamente da mesma forma como fizeram as Escolas de Mistérios Essênia, Mandeana e de Valentin gnóstico – colocam em processo de transfiguração a nossa CARTA SELADA PELA MÃO DIREITA DO PAI.
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Figura 3. A Via Iniciática gnóstica como via da Kundalini Cardíaca. No alto vemos a Pomba do Paracleto, o Aguadeiro, ou Urano-Aquário, e Pistis Sophia suplicando chorosa por socorro da Luz. Por orientação de Pistis Sophia o gnóstico deve ir ao Jordão se batizar e acender o fogo kundalínico cardíaco. Assim, o Cristo fundido no madeiro da Cruz formará com ele um par cardíaco que colocará em operação o pentágono dos cinco pontos do peito (mostrado à esquerda da figura). A gota e o coração abrirão a audição instrutiva que vem da Casa Santa, atendendo assim à súplica de quem aspira e suspira por libertação. |
Há outro hino gnóstico da Escola de Bardesan cuja letra diz: "Sagrado Óleo, dá-nos tua santificação e secreto MISTÉRIO. Tu és aquele que REVELA MISTÉRIOS OCULTOS. Venha a nós o teu poder-luz. Ó tu que trazes Ordem na desordem e que tens piedade para com a minha alma. Que eu possa receber a tua Luz. Ó salvador da minha alma, que a restaurou em sua própria natureza!".
Na figura 2, o Santo Óleo impregna o punho das mãos, isto é, os pontos TA5 e TA6 do San Jiao (三焦), ou Triplo Aquecedor. Levando-se em consideração a Gnosis Maniqueia, devemos entender que Jesus Sofredor (Iesus Patibilis), que foi fixado na madeira da Cruz e nela misturou alquimicamente sangue, água, seiva e óleo, isto é, o Santo Graal, produziu por meio do MISTÉRIO DO GÓLGOTA o poder salvador e o impregnou no reino vegetal, em especial nos óleos de oliveira, de nardo e de lírio. Por isso, em Cantares de Salomão (2: 2) há uma expressão latina para o Óleo Salvador: Lilium Inter Spina (Lírio entre Espinhos).
No documento jessênio Manifesto 1993, é dito que a palavra MISTÉRIO se origina do grego Mysterion-mustørion e tem o radical μύω, cujo significado é aquilo que é interior, profundo, escondido e encerrado nas profundezas da alma. Nesse Manifesto, o termo mistério é definido como ritos sagrados das escolas espirituais da antiga Grécia. Esses ritos consistiam em cerimônias em que o discípulo fazia abluções (mergulho em poços de águas especiais), bebia um líquido sagrado e em seguida era untado com óleo perfumado e vestido com vestes brancas. No Livro Egípcio dos Mortos também há frequentes alusões a tais ritualísticas de batismo, de unção e de refeição sagrada.
No texto do Hino da Pérola, colocamos em maiúsculo a palavra UNGIDO. Trata-se de alguém assemelhado a Jesus Salvador, que se tornou um Óleo Sagrado, mediante o processo da alquimia da Santa Cruz. Quando o neófito é ungido da forma ritualística correta, ele recebe do campo etérico de uma Escola de Mistérios o poder santificador o qual procura nele a Gota Batismal e nela insufla a força do ÉON FRONTEIRA.
Muito temos a falar sobre o Eon Fronteira. Aqui podemos apenas adiantar que ele toca três pontos dos pés do discípulo na senda dos Mistérios (figura 2). Um desses pontos, o meridiano hepático F3, estabelece no fígado uma condição de FRONTEIRA, limite, separando, nesse órgão, o poder diurno e o poder noturno, e dividindo o poder noturno em sete horas de sono comum (o SONO DO ESCRAVO, preso nos fios negros e ferruginosos da matéria) e em vinte e cinco minutos de sono sagrado, a que damos o nome de Sunyah.
O termo Sunyah deve ser entendido pelo ângulo do Budismo Maniqueu de Xinjiang, zona noroeste da China, onde os discípulos de Mani ou Manes, fundador do Maniqueísmo, chegaram a partir dos séculos V e VIII d. C. e fundiram numa só Escola de Mistérios o Cristianismo Gnóstico, o Budismo e o Taoismo. O Sunyáh é um hiato, uma parte separada do sono do gnóstico, em que ele recebe a visita do Eon Jesus Sofredor e do Eon Fronteira, os quais formam nele o óleo da Cruz Salvadora e o líquido do Santo Graal. Em consequência dessas visitas noturnas, o gnóstico torna-se um ESTRANHO e ESTRANGEIRO (alógenes) neste mundo material, no Egito, e repete com Jesus as seguintes palavras: "As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem sequer onde reclinar a cabeça (Lucas 9: 58)". Também Lao-Tzu, o grande profeta do Taoismo, tendo em vista a mesma situação disse: "Todas as pessoas têm pátria, casa, lar e família, só eu não tenho pátria, nem casa, nem lar e nem família".
Reiteramos ao pesquisador que entenda esses relatos de Jesus e de Lao-Tzu de forma bem esotérica, antevendo o que no Dualismo é a visão negativa deste mundo material, deste Egito habitado por seres astutos e governado pela serpente tonitruante, a qual, ao perceber um ESTRANGEIRO, age de forma inimiga e maldosa contra ele procurando impedi-lo de lembrar da CARTA DE SEU CORAÇÃO e de atender ao seu chamado.
É segundo o estado chamado ALÓGENES que o fundador de uma Escola de Mistérios e seus mais elevados discípulos são considerados pelas forças inimigas chamadas “Egito” como uma ameaça, alguém não bem-vindo a quem direcionam seus ataques. Aos seguidores e formadores de Comunidades Gnósticas também é destinado algo dessa inimizade. Esse é o motivo por que as Escolas de Mistérios mantêm seus vínculos com o Oriente, com o Leste geográfico da Terra, e para lá se expatriam refugiando-se em seus desertos.
O que caracteriza o ALÓGENES são as forças etéricas alquímicas da glândula timo. Alguns investigadores da Gnosis dizem que os gnósticos expressam a mais alta LIBERDADE e por isso desajustam-se da sociedade, da pátria e de seu meio cultural. Eles seriam, segundo tais investigadores, inteiramente aversos aos governos, aos costumes morais e culturais justamente porque pensam que tudo neste mundo é representado por uma ordem do Demiurgo mal contra a qual devem apresentar uma espécie de reação anárquica. Isso não é verdade. Os gnósticos e seus Hierofantes, seus mestres, sabem que a LIBERDADE AMPLA SÓ EXISTE NO PARAÍSO, no Reino do Pai. A liberdade que é possível nesse reino material é parcial e imperfeita, mesmo assim ela é merecedora do máximo respeito e da melhor e mais sábia estratégia por parte do gnóstico. Isso dizemos para o pesquisador ficar bem informado a respeito do pensamento jessênio. Não somos um grupo de engajamento político ou de ativismo de qualquer natureza justamente porque procuramos a LIBERDADE no lugar onde ela é plena: na região que o Hino da Pérola denomina Casa Paterna repleta de felicidade e de amor.
Sabemos que essa atitude gnóstica de afastamento dos movimentos políticos e de outros inerentes a esta natureza decepciona muitos que esperam ver na ação gnóstica um espaço para ativismos diversos e para uma revolução social. É essa decepção que Jesus causou aos judeus com sua famosa resposta sobre ser justo pagar ou não impostos a Roma: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22: 17 a 21).
No Hino da Pérola é dito que o peregrino vestiu as vestes do país estranho onde ele estava, mas que tal medida não foi suficiente para que os cidadãos do lugar o tratassem de modo amistoso. Também no Evangelho de Tomé há um dito com conteúdo semelhante: "Maria disse a Jesus: 'A quem se assemelham teus discípulos?' Ele disse: 'Eles se parecem com CRIANÇAS que se instalaram num campo que não lhes pertence. Quando os donos do campo vierem e disserem ‘Entregai nosso campo’, elas se despirão diante deles para que eles possam receber o campo de volta” (Dito 22).
![]() | Figura 4. As crianças que se despem no campo, o batismo representado pela concha terapêutica e o som de Anjos e Hierofantes instrutores. A timo e sua fumaça angélica. | |
Observando a figura 4 podemos compreender o que é a timo e por que os profetas, como Moisés e Elias, viram Deus em um redemoinho de fogo e de fumaça, numa sarça ardente (Êxodo 3: 2 a 5, Êxodo 19: 18, Joel 2: 30). Assim, teremos respondida a pergunta sobre qual é a prática gnóstica da Comunidade Jessênia. São elas as lustrações batismais, representadas pela gota de água, e o rito da unção, representado pela gota verde.
Gnósticos que somos, nós, jessênios, temos como Bíblia Viva, como Livro Angélico Falante (ver figura 4) e como Palavras Viventes: o Evangelho de João e a totalidade das Escrituras Sagradas, os Evangelhos de Tomé e o da Pistis Sophia[1]. Por isso, quem anela pela Verdade deve estar preparado esotericamente para entender quando dizemos que Jesus trouxe, do Paraíso para a Cruz, os Livros Vivente que são folhas terapêuticas tiradas do Reino da Luz e trazidas para nós como cura e salvação (Apoc. 22).
Quando em nossas figuras colocamos uma pérola rodeada de espinhos na coroa de Jesus, não estamos nos referindo a um sofrimento moral ou psicológico, não apontamos os aspectos do emocional inteligente ou limitado, tampouco os da ordem das perturbações mentais. Não é um sofrimento expresso pelas operações do sensório humano exalado e constituído pelos órgãos nervosos do corpo material. Ele também não tem origem nos corpos sutis harmonizados ou não ioguicamente. Trata-se de uma condição alquímica, glandular, do peito do gnóstico. Por meio desse peito alquímico, ele percebe uma dor que teve como fonte o seu rompimento com Deus no dia do seu erro no Jardim do Éden, quando precisou vestir roupas animalescas (Gênesis 3: 21). Por isso a CRIANÇA GNÓSTICA está neste campo de vida material profundamente espinhada por essa reminiscência remota e imita, com tal estado de ser inquietado e angustiado, o sofrimento de Jesus na Cruz.
Esse sofrimento é, portanto, um sofrimento graalístico, referente à alquimia da Cruz, onde se misturaram óleo, água, sangue, luz e poder redentor; não é algo emotivo, mas uma verdadeira consciência do quanto a humanidade necessita de um cadinho terapêutico que só poderia ser formado no sacrifício da Cruz. Como a ostra ferida se despe de parte da sua cobertura epidérmica por meio da dor e gera a pérola, também as CRIANÇAS GNÓSTICAS se despem da pele animalesca para se assemelharem à Sophia Luminosa que representamos na figura 4 na fumaça do cadinho terapêutico.
O cadinho terapêutico é o símbolo da TRANSMUTAÇÃO ALQUÍMICA, de modo que ele representa a disposição do gnóstico em abandonar a sua veste de pele e o campo onde ela é gerada, o campo material de vida, para vestir-se novamente das roupas angélicas do Jardim do Éden. Existe, pois, no caminho alquímico, a necessidade de estar pronto para TRANSFORMAR-SE NUMA CRIANÇA (Mateus 19: 14), de modificar algo do estado de ser interior ainda coberto pelas capas e vestes da matéria.
Essa alquimia evangélica rica de aspectos gnósticos e iniciáticos não pode ser minimamente abordada de modo satisfatório em um pequeno documento como este ou em outros postados em nosso site. Assim, passarmos a partir daqui a olhar mais diretamente para o texto do Hino da Pérola.
O início do Hino é a referência a uma alma muito jovem e ainda imatura para falar (para lidar com seus Poderes-Luzes dinamizadores das Emissões criacionais). Ela é observada por seus pais no trânsito do mundo espiritual para o mundo material numa situação que significa um grande perigo. No texto é dito que seu lar era “situado no Leste”. Esse Leste é o Oriente, mas não deve ser entendido como um local geográfico, a nascente do sol físico; ele é uma simbologia para o lugar da Luz Original.
A alma foi enviada até os limites do mundo espiritual, até onde atuava o Eon Fronteira. Ali mesmo ela poderia alcançar a pérola, pois num primeiro momento, conforme descreve o Hino, o eon Egito ainda não havia se formado completamente. Num segundo momento, esse eon surge com toda sua potencialidade maligna, é quando a alma se encontra em maior perigo. É no segundo tempo, cujo significado é muito sutil e hermético, que o peregrino se faz igual aos egípcios.
Para que possamos ler gnosticamente esse belo tratado gnóstico, o Hino da Pérola, devemos distinguir os dois momentos do eon Egito. No primeiro momento, o peregrino ainda vivia consoante o pacto feito com os pais, o qual estava gravado no amago do seu coração (nos cinco pontos do peito) para não ser esquecido.
[1] Todos os documentos de Qumran e de Nag Hammadi, todas as Escrituras Gnósticas e os Santos Apócrifos, bem como as Escrituras Maniqueias são, para nós, Verbo Vivente, Logos-Zoé. Por isso nos consideramos mais que priscilianistas e valentinianos, e somos realmente bogomilos e cátaros.
Os bens contidos na Tesouraria do Pai, diversos metais preciosos e o misterioso Adamas, indicam os dispositivos espirituais do Pleroma, os quais possuem elevado valor, mas são leves, podem ser sustentados facilmente pela Alma. O metal áureo da habitação dos Altíssimos indica a própria Gnosis e a prata, a qualidade da compreensão espiritual. O Adamas é uma pedra misteriosa símbolo daquilo que Hermes Trismegisto chama de Nous e Logos, que participam tanto da formação do Universo divino quanto dos poderes dinâmicos deíficos da alma.
A Aliança celebrada com o Pai é o poder que o homem tinha de mover-se por todo o Reino Plerômico e ir até os seus limites mais largos, de onde ele retornava ainda mais triunfante e preenchido de Glória Celestial. No segundo momento do eon Egito, o peregrino (a alma humana) já está desligado da Aliança com os pais e esquece da Carta. Ele passa, então, a ser acometido de uma inquietação latente, profunda, que de vez em quando surge em seu mental concreto, particularmente quando ele experimenta um sentimento de não pertencimento a este mundo. Junto com essa inquietação emerge uma saudade misteriosa, que o segue até ele compreender que se encontra em uma terra estranha e que precisa atentar para essa saudade da alma. É quando se inicia a sua verdadeira jornada de recuperação dos Tesouros do Pai e ele vê claramente este mundo, situado no segundo estágio do eon Egito, o lugar onde está só e distante do Lar Original.
O Pacto significa uma ida até os limites do Pleroma, mas o peregrino percebe que a pérola preciosa atravessou indevidamente esse limite, mergulhou na substancialidade material e agora se encontra sequestrada por uma terrível serpente (em grego drakon). Nessa situação de guardada por uma serpente tonitruante, essa pérola não pode mais alargar os seus poderes e tornar-se um instrumento de ligação com a Gnosis. A pobre pérola, que tem uma voz semelhante ao silêncio não pode se manifestar ante o grande barulho emitido por essa víbora maligna.
O mar, dentre muitos outros significados, é o simbolismo do emocional humano, onde nadam nossos eus ilusórios, nossas inferioridades e imperfeições, situadas fisicamente na pélvis, cuja astralidade característica do segundo momento do eon Egito impede o coração de manifestar quaisquer vozes e poderes espirituais.
É interessante o fato de o escrito ora investigado ter como título O Hino da Pérola. Sabemos que a Terra se encontra ainda mergulhada nos terríveis ruídos da época lemuriana e que o Logos de Deus precisou derramar-se da Cruz até o interior planetário por meandros distantes desse ruído infernal. Da mesma forma, devemos ir ao nosso coração por essa via (da Cruz) silenciosa e ao mesmo tempo musical, a qual os Evangelhos chamam de Salus Mundi, Saúde do Mundo. É por meio dela que nos desviamos de modo seguro da serpente barulhenta.
![]() Verdade. Os cinco elementos e o laboratório planetário. | ||
A serpente, designada como um monstro terrível, é o fogo astral zodiacal ímpio que rodeia a Terra. Ele envolve e mantém distante a astralidade divina da Salus Mundi, que no Oriente é chamada de kundalini cardíaca ou Shabda Brahma, palavra sânscrita que significa Canto e Voz do Espírito.
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Tanto a serpente da tendência para o mal quanto a Pérola ou Som do Espírito têm aspectos cósmicos e microcósmicos que habitam no coração do planeta e no coração do homem. Na verdadeira Iniciação Dualista Gnóstica, o discípulo precisa realizar a alquimia da separação. Ele deve negar a serpente e procurar a Pérola a ser desperta e cuidadosamente elevada do coração ao centro da cabeça, onde ela se encontra com a Força Espiritual duas vezes duodécupla (os Vinte e Quatro Pares de nervos cranianos tomados pelos Vinte e Quatro éteres crísticos). Essa Força desce pelo chacra coronário e confere ao discípulo a Iluminação, a Gnosis, na forma de coroa de luz com grinalda e veste sagradas.
O resultado dessa realização extremamente difícil é o reencontro com o Pleroma. Conforme ensinam as Tradições de Mistérios, os sistemas perturbados ruidosamente pelo erro luciférico giram por imensos ciclos de manifestação e retração. Em cada ciclo a Voz do Logos torna-se orquestrada por magníficos profetas e Hierofantes e mergulha na matéria com seus sons maravilhosos, formando ensinos que resgatam as centelhas humanas, as pérolas perdidas. Essas centelhas decaídas são conduzidas por um caminho de ascensão ao longo do qual elas vão se libertando, despindo-se pouco a pouco da veste material até que se manifeste o verdadeiro Homem Primordial.
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O viajante que partiu do Reino da Luz Original é seguido de perto por dois guias, dois seres de duas espécies: 1ª A Hierarquia Angélica do Logos, que, chefiados por Micael, conforme o ensino de Jacob Boehme e de seus seguidores, como Carlos Guichtel e Freher, formam o exército hipostático da luta contra os espíritos luciféricos nas rodas cósmicas da serpente maligna. A missão dessa Hierarquia é abrir brechas nos feixes de forças do zodíaco ímpio e eônico para a atuação da segunda espécie de seres: os Hierofantes ou Tathagatas (Tatha = ido e voltado; gata = caminho que se percorre); 2ª Os Hierofantes ou Supremos Mestres os quais, uma vez libertos, não seguem para o Reino da Luz, eles “vão e voltam” do lado fronteiriço da astralidade cósmica serpentina para o outro, o da região cósmica do Salus Mundi, guiando massas de discípulos e suas Mônadas na saída dos planos inferiores da matéria em direção ao Reino da Plenitude, o Pleroma. Essas duas espécies de seres habitam o coração dos planetas junto com o Terceiro Logos e suas Forças de Salus Mundi formam o que os gnósticos valentinianos e os discípulos de Bardesanes denominavam Stoikeia.
O jovem segue seu percurso por diversas regiões, que devem ser entendidas como da astralidade cósmica ímpia e sua própria astralidade cardíaca maligna. Esse percurso designa a descida da alma da Luz para as trevas em decorrência do processo da Queda ou, simbolicamente, a saída do Oriente rumo ao Egito.
A Linguagem de Mistérios adotada no Hino da Pérola nomeia as regiões aí citadas segundo o contexto histórico-geográfico da época em que o hino foi composto para indicar o trajeto interno e externo descensional da queda humana. Percorrer as fronteiras de Maishan (em grego meson, intermediário) significa a travessia da alma pelos portões do plano astral, na região da mescla, onde se situa a ponte entre o mundo sutil e o mundo material. É nessa ponte que os seres em queda se mesclam com os elementos materiais trevosos, e é nela o ponto de encontro com os mercadores que contrabandeiam e falsificam os produtos do Leste (do Oriente, do Mundo do Espírito). No microcosmos, este local corresponde à mente concreta e ao corpo astral, nos quais os conceitos abstratos são deturpados, corrompidos, e finalmente transformados em linguagem natural deste mundo decaído. Isso significa que, na queda, a Cognição, a Intuição e a Iluminação, faculdades da Mente Abstrata, adormeceram e ficaram aprisionadas pelo pensamento, vontade, sentimento e memória racional, faculdades da mente concreta.
O peregrino (a alma) chega, então, à Terra de Babel, expressão para denominar os terríveis ruídos lemurianos, atrás citados, que em nós aparecem como impulsos do mundo astral (dos desejos), é a distorção sonora da serpente tonitroante e ímpia pélvico-cardíaca, de natureza contrária à da Shabda Brahma, a corrente de Fogo Falante. Em seguida a pobre alma adentra nas ‘muralhas de Sarbug’, o que significa o labirinto do factum zodiacal, onde se destila o ocaso dos homens; ele corresponde aos planos astral e etérico em que uma série de redes energéticas formam no homem a sua tendência para o mal. Ao chegarem ao estágio do eon segundo Egito, símbolo do corpo físico, carnal, os acompanhantes do jovem, não podendo ali se estabelecer, invertem seus passos e retornam a seu mundo de origem.
A pobre alma humana termina por chegar a uma hospedaria rústica e imperfeita: o corpo denso e a rede de elementos químicos que o configuram. Com efeito, a Gnosis com sua Linguagem de Mistérios sempre indica o corpo humano como uma morada provisória e hostil, uma gaiola aprisionadora da alma, cuja natureza é, conforme a doutrina budista, da impermanência e de dukka (sofrimento e dor). Esta alma tenta usar essa rede de energias materiais que formam seu corpo denso como uma corporeidade comum, semelhante à dos ‘outros da hospedaria’. Mas porque ela mantém a consciência de sua origem divina e a lembrança do seu parentesco plerômico, os seus vestidos egípcios acabam por serem reconhecidos como diferente dos ‘outros hóspedes’, o que resulta em atitudes de repúdio e de agressão.
Não obstante a hostilidade dos egípcios, o viajante encontra “um nobre do Leste, jovem, belo, amável, um filho de reis – um UNGIDO”, de quem ele se aproxima. Esse “jovem formoso e bem favorecido” é um Tataghata, o instrutor espiritual, o Hierofante, um daqueles que inverteu os passos quando o jovem decidiu instalar-se na hospedaria da matéria. Ele representa o movimento de ir e vir, sempre aparece e desaparece porque um Tataghata não pode permanecer muito tempo na matéria.
É importante notar que o novo amigo do peregrino lhe dá um conselho nada comum e de natureza filosófica dualista. Ele recomenda o viajor a não se misturar aos egípcios impuros, justamente porque estes são seus inimigos, que se disfarçam de amigos para lhe oferecer veneno como alimento. Esse veneno é mais que físico ou químico, ele é na verdade comportamentos emocionais e irracionais, repletos de orgulho, de ambição e de eu-centralização, por meio dos quais a pobre alma permanece neste mundo mergulhando mais fundo em sua lama. Foi exatamente essa lama que causou ao filho do rei a amnésia quanto à sua origem e nobreza, tornando-o um súdito do rei local, voltado somente para matéria e olvidado de seus dons e atribuições espirituais.
Seu Pai e seus parentes do Leste perceberam o quanto o peregrino mergulhou na lama material e por isso se entristeceram. Essa tristeza do Pai e dos parentes plerômicos é um véu misterioso, já que eles sabiam que a viagem do peregrino até o lugar do primeiro momento do eon Egito era mesmo muito perigosa e podia estender-se mais, até ao segundo momento do eon Egito. Como o Hino é dualista bardesano, devemos compreender que essa percepção do Pai e dos parentes do Leste funciona na verdade como uma Providência divina que tudo conhece. Por essa Providência o Pleroma sempre envia mensagens assinadas por cada membro do Coros Celestiais. Assinar o nome angélico de cada ser plerômico denota que a mensagem enviada contém todos os dispositivos salvíficos do Pleroma.
A águia representa o Cristo Solar e o Proto-Átomo cardíaco, a mente abstrata tomada pelos hormônios crísticos destilados pelos Cinco Pontos do Peito (osso esterno, coração, corrente sanguínea, glândula timo e joia no lótus). Ela indica, ainda, uma Escola de Mistérios, portadora da Mensagem que os seres celestes assinaram. Nessa Escola, Hierofantes e Anjos formam o pássaro de Mistérios cujo voo traça o caminho de volta à Casa do Pai. Esta ave, ao pousar, traz a Verdade espiritual para o plano da mente concreta. Esse maravilhoso simbolismo que representa os Hierofantes e os Anjos como pássaros de Mistérios que sempre voam traçando caminho entre o mundo da queda, o coração do homem e o Lar Original é uma marca profunda do Gnosticismo Dualista, por isso no Hino da Pérola o peregrino assume o comportamento de um estranho ao mundo do segundo momento do eon Egito.
Esse estado de estranho e de estrangeiro nas terras do segundo momento do eon Egito significa um mui distinto sentimento de não pertencimento a este mundo. Jesus sempre o expressava quando dizia “o meu Reino não é deste mundo”. Falar de Gnosis sem ressaltar esse estranhamento do alogene (estrangeiro) é andar muito longe das Escolas de Mistérios, como a de Pitágoras, de Qumran, Sócrates, de Platão, de Nag Hammadi. É em razão dessa distância que muitos “gnósticos” amam o corpo e a serpente barulhenta que mora na sua pélvis.
Aquele que deseja ouvir os ruídos da sua serpente barulhenta não se assemelha ao nosso pobre peregrino do Hino da Pérola. Com tanto barulho pélvico, ele jamais poderá acessar a mensagem da Carta em forma de águia, não podendo também erguer-se e despertar do sono da queda. O peregrino que se aliou ao silêncio recebe a carta como uma dádiva porque ela lhe lembra a sua verdadeira natureza, e por isso ele agradece ao seu Pai e parentes plerômicos com o gesto de beijar a carta, ou seja, ele digere a mensagem vinda do Próto-Átomo, do âmago de seu microcosmos. O ósculo santo é um gesto utilizado com frequência pelos gnósticos para indicar o ponto de contato da consciência com a memória microcósmica mais profunda e com todos os dispositivos angélicos que aí atuam.
O peregrino do Hino da Pérola descobre que a carta-águia tem uma dupla conotação: além de mover-se do Pleroma até os limites do Egito, ela também já se encontrava escrita e em movimento no centro de seu peito. Ela é a mensagem fixada no ponto do coração que ficou incólume à queda, o Proto-Átomo. Essa ideia é também expressa por Paulo: “Nossa carta sois vós, carta escrita em nossos corações, reconhecida e lida por todos os homens. Evidentemente, pois, uma carta de Cristo, entregue ao nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos corações!” (II Cor 3, 2-3).
Ao acessar a carta o viajante também acessa o que Paulo chama de “ministério”. Um Ministério é um espaço-tempo aberto por um Eon Angélico, no qual vêm habitar ecos de todas as Vozes que falaram a respeito da Verdade. Nessa sonoridade, aparecem as articulações acústicas do nome do Pai, da Mãe e dos Poderes angélicos dispostos a auxiliarem o peregrino desperto. Essas vozes e nomes possuem a qualidade de unirem-se aos ecos umas das outras formando uma grande orquestra aonde a Verdade chega na forma de Daat (Gnosis).
À medida que o peregrino assimila esses ecos e desperta para trilhar o caminho de retorno à Casa do Pai, esses sons vão se concentrando no lado direito do coração e rodeiam o Proto-Átomo como se fosse uma pérola.
Quando o gnóstico adquire a condição representada pela pérola preciosa, ele começa a se mover mais livremente e se põe para fora do segundo eon Egito. Tem início aí a sua jornada de retorno à Casa do Pai. Ao longo de sua trajetória ele vai abandonando os mantos carnais de seu corpo denso. Ao final, vazio de toda a lama material, ele pode seguir para seu Lar Original ou novamente se aproximar do Egito, para auxiliar muitos outros homens que se encontram adormecidos. Mas neste caso ele é provido de uma corporalidade especial e provisória destinada ao seu trabalho de Mensageiro da Luz. Essa corporalidade, apesar de idêntica à dos habitantes do país da lama material, não são impuras pois foram especialmente costuradas pelos artesões do Pleroma para que o nobre Mensageiro, agora um Tataghata, ou um Mestre da Compaixão e Sabedoria, possa exercer sua missão de Profeta.
Todos os caminhantes que retornam à Casa do Pai, o Oriente, podem seguir o mesmo trajeto descrito no Hino da Pérola. O Oriente simboliza a direção de onde vem a Luz, portanto, a alma dirige-se para as alturas espirituais, o que também significa elevar-se em seu próprio coração protoatômico.
O caminho entre o Egito e o Leste é sempre repleto de mensagens, hinos e belas músicas. Os que o trilham estão libertos dos ruídos pélvicos do corpo físico, assim, podem ouvir, no imo do ser, o silêncio e as reverberações de suas notas melódicas. A partir desse recôndito, nele foi desperto o que na Gnosis chamamos de “ouvidos cardíacos”. Isso demonstra que agora ele vai além das letras e dos escritos para acessar diretamente a mensagem da Luz.
No livro bíblico Provérbios de Salomão há o seguinte enunciado: “de tudo o que tendes de guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as portas da vida luminosa”. Escutar o coração não é um ato místico, um sonho, uma visão de êxtase mediúnico. Trata-se na verdade de uma profunda e decisiva atitude de repetição do ato daqueles que antes acompanhavam o viajante e que se recusaram a hospedar-se no solo mais negro do eon segundo Egito. No ser daquele que enceta o caminho de retorno ao Lar Original tem de haver uma despedida processual e discipular das forças e substâncias que constituem a morada na matéria.
A respeito do que atrás foi dito, podemos falar de um coração duplo. No nosso coração há dois compartimentos e duas vozes; o lado esquerdo sopra no ouvido esquerdo a voz que Boehme chama de mercúrio venenoso angustiado, e no lado direito do coração há a Voz que Boehme denomina mercúrio do anelo por libertação. Sobre isso o sapateiro iluminado diz no De Signatura Rerum: “Adão e Eva estão mortos da seguinte maneira: o Mercúrio da alma saiu da essência da eternidade imaginando-se na essência do tempo, fonte da angústia; assim, a alma perdeu a essência da eternidade, que Cristo, no seu sacrifício, devolveu-lhe mais tarde, através do seu Verbo divino. Vê-se, portanto, que essa essência mercurial está enterrada na morte, no mercúrio angustioso. Ensinarei, então, como levar o mercúrio angustioso, adoecido, a uma diminuição, e substituído pelo anelo de formar um corpo não mais para a morte, mas para a essência da eternidade” (Cap. VIII, Itens 9 e 10). Nos graus internos da Escola de Mistérios Jessênia, esse tema é abordado de forma prática e a Hierofania apresenta-o aos seus alunos de forma mais aprofundada.
O mercúrio angustiado, ou seja, ligado ao envenenamento da cólera de Deus (da Justiça divina) – expressão constante nos escritos de Jacob Boehme – é a raiz e a essência, a natureza do nosso corpo astral ou de desejos. Com efeito, ele só deseja amar e conhecer a matéria, seus bens transitórios, suas paixões e ilusões. Sediado, de modo alquímico e etérico, no sangue como quinto metal ímpio, o da autoilusão e da premeditação do mal, o mercúrio angustioso leva o corpo astral a ter ligação com o lado esquerdo do coração, com a voz do desejo de conhecer e amar a matéria, e convoca os cinco sentidos para realizar tais desejos.
No Jessenismo, ensinamos que a tomada de consciência de que não devemos nos hospedar nas terras do Egito, nos seus labirintos e entranhas, é a consciência que nos possibilita chegar a Maishan, o lugar onde o espiritual começa a dar as costas para o material.
Segundo a ótica do Dualismo, essa viagem gnóstica é como a descrita por Fulcanelli quando ele fala do peregrino, o viajante: “Todos os alquimistas precisam empreender essa peregrinação, pelo menos figuradamente, pois se trata de uma viagem simbólica. O nosso viajante caminha por um longo tempo carregando um alforje vazio (o esvaziamento do mercúrio angustioso) e um bordão sem cabeça (a ausência de predominância da ação da mente concreta sobre a abstrata); na testa, o peregrino tem a concha de São Tiago de Compostela (o Selamento Batismal). Assim, vestido de São Tiago Maior, o peregrino é o Mercúrio secreto ou filosofal. De fato, a chegada do peregrino a Compostela significa que ele obteve a estrela, o princípio da nova veste astral, que o nosso mercúrio secreto é um grande desejo de mudar de natureza astral tendente ao mal, e estabelecer-se na matéria astral do puro anelo por redenção”. (Citação do livro As Mansões Filosofais, cap. O Homem dos Bosques).
Assim que o peregrino atravessa o limite denominado “ossos das costas” e “sonolência de Adão”, indicado no Hino como a Maishan simbólica, o peregrino avista aqueles que oferecem os magníficos conteúdos do Tesouro da Luz, como a “toga” e o “manto de Glória”, os quais revestem todos aqueles que acham as passagens para o Pleroma. Esse oferecimento dos Tesouros representa o reencontro com a própria essência e a devolução ao jornaleiro (o peregrino) de suas antigas atribuições angélicas magníficas.
De fato, a Hierofania jessênia aponta o corpo astral denominando-o “a costa”, “a costela” ou “compostela”; nele fica o limiar da astralidade ímpia e sua fronteira com a astralidade das Estrelas-Stoikeias do Logos Solar. O nosso corpo astral não poderá transpor os limites dessa fronteira devido à sua natureza tendente ao mal. Devemos, então, formar um novo corpo de anelo e seguir em direção ao campo luminoso do Pai, para dele extrair a matéria astral gloriosa da nossa Veste de Luz.
Hino diz que a Veste de Luz se parece com seu portador. Isso é um fato muito relevante na Gnosis. Em hebraico, ele é denominado Dmut, ou Semelhança. Decerto, cada ser criado por Deus tem uma face singular e a veste que o cobre é perfeitamente moldada a ele. Essa semelhança só pode se manifestar aos que retornam à Casa do Pai quando eles estão próximos dos portais de entrada no Paraíso. Quem possui essa Dmut, habita em meio aos Ofanins, os Anjos da Face, e nenhum ser próximo do Egito assemelha-se a ele.
Os tesoureiros da Casa do Pai ao saírem para percorrer a trilha da jornada do peregrino, operam sua Dmut de forma muito especial e misteriosa. Eles se manifestam sempre aos pares, em sizígias. Cada um deles é completo em si mesmo, mas estendem sua completude até o sinal mais evidente do Pleroma: os pares macho-fêmea. É por isso que os Hierofantes fundadores de Escolas de Mistérios sempre aparecem nesse lugar do segundo momento do eon Egito também aos pares. É somente assim que o proto-átomo daquele peregrino que começa a recordar quem ele é reconhece os verdadeiros obreiros da Casa do Pai.
O final da jornada do peregrino é assinalado pela presença dos tesoureiros do Rei. Eles entregam ao vitorioso o seu manto de esplendor. Essa Veste repleta de brilho das joias pertencente ao Tesouro da Luz tem impressa nela a Face do Rei dos Reis (Rex Gloriosous), uma expressão do total domínio sobre a vida inteira. Assim condecorado, o peregrino contempla a si mesmo como que num espelho e constata que a movimentação misteriosa e angélica do Pleroma ali se reflete. Cada movimento gera um relâmpago e uma sílaba que ao juntá-las o viajor percebe que ele agora está maduro e apto a falar. Não sabe falar aquele que não sabe ouvir. Portanto, ao ouvir os sons que relampeiam em sua Veste, o peregrino os leva à sua mente abstrata e a partir dali formula seus grandiosos diálogos.
O peregrino ouve em suas vestes a seguinte afirmação: 'Sou eu que pertence àquele para quem fui indicada pelo próprio Pai’. Fica óbvio que o nosso herói recebeu neste momento a condecoração como um Bom Homem, um cátaro, um Mestre Albingense, um Mestre de Compaixão e da Sabedoria. Isso é autenticado pelo Nobre e pelas suas próprias vestes que dizem: ‘E percebi em mim como minha estatura aumentava com sua atividade’.
O que vem a seguir é a cerimônia de posse da Veste, que ocorre em meio ao grande esplendor exalado pelo Rito de Iniciação de um rosalbigense. O belo que se expressa nesta Veste de Luz como explosões de cores fulgurantes indica que o iniciado se tornou um cidadão do Pleroma, um gnóstico em cujas maõs agora os poderes dos Sete Raios do Paracleto brilham em grande dinamismo.
Quem alcança essa Veste de Luz e se reveste do Manto do Poder chega aos Portais das Boas-Vindas e da Reverência, e ali se inclina celebrando a Glória do Pai. Tal como na Parábola do Filho Pródigo, grande música, louvores e alegria se manifestam entre os seres do Pleroma. Eles comemoram, pois esse Filho de Deus é como uma Luz do Sol espiritual em seu retorno à fonte de toda a Claridade.
Ibny Joshai (Hierofante, no Ocidente, da Escola Jessênia de Mistérios)
Revisão: Bath Sithráh